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O fim do mundo em 2012

Posted by Marconi em 2009/10/31

APOCALIPSE POPULAR
Uma das cenas da catástrofe planetária no filme 2012: a profecia ganhou as ruas

Os planetas, as estrelas, o calendário maia e, é claro, uma superprodução de Hollywood reavivam a ideia aterrorizante do apocalipse e levantam uma questão: por que continuamos a acreditar em profecias finalistas apesar de todas elas terem fracassado redondamente?

O escritor Patrick Geryl tem 54 anos, escreveu uma dezena de livros, nunca se casou, não tem filhos e atualmente anda muito ocupado preparando-se para o fim do mundo. Na semana passada, esteve em Sierra Nevada, no sul da Espanha, acompanhando uma equipe de televisão do Canadá, numa vistoria às habitações que estão sendo construídas ali. São ocas de cimento capazes de resistir ao cataclismo que, acredita Geryl, destruirá o planeta Terra no dia 21 de dezembro de 2012. “Queremos um lugar a uns 2 000 metros acima do nível do mar”, explica. Ele e seu grupo pretendem levar 5 000 pessoas para um local que resistirá aos horrores do apocalipse. Será o último dia do resto da humanidade, acredita Geryl, um dia para o qual ele se prepara desde a adolescência, quando, aos 14 anos, na histórica cidade belga de Antuérpia, começou a se interessar pelo assunto lendo livros de astronomia. Ao voltar da Espanha, Geryl ocupou-se em relacionar os itens que devem ser levados para o bunker antiapocalipse. Na lista coletiva, havia 348, faltando ainda incluir os medicamentos. Na de uso individual, 86.

DA BÍBLIA PARA O LABORATÓRIO
Uma das cenas de Apocalypto, filme ambientado no mundo dos maias (à esq.),
e o ator Nicolas Cage, em Presságio: depois da II Guerra, a ideia do apocalipse
passou a ter duas fontes – a religião e a ciência

O ano de 2012 tornou-se o centro de gravidade do fim do mundo por uma confluência de achados proféticos. Primeiro, surgiu a tese de que a Terra será destruída com a volta do planeta Nibiru em 2012. Depois, veio à tona que o calendário dos maias, uma das esplêndidas civilizações da América Central pré-colombiana, acaba em 21 dezembro de 2012, sugerindo que se os maias, tão entendidos em astronomia, encerraram as contas dos dias e das noites nessa data é porque depois dela não haverá mais o que contar. Posteriormente, apareceram os eternos intérpretes de Nostradamus e, em seguida, vieram os especialistas em mirabolâncias geológicas e astronômicas com um vasto cardápio de catástrofes: reversão do campo magnético da Terra, mudança no eixo de rotação do planeta, devastadora tempestade solar e derradeiro alinhamento planetário em que a Terra ficará no centro da Via Láctea – tudo em 2012 ou em 21 de dezembro de 2012.
Divulgação

CONFIANÇA NA CATÁSTROFE
Patrick Geryl, autor de três livros sobre
o fim do mundo em 2012: ele não lida
com outra hipótese

Com tantas sugestões, a profecia ganhou as ruas. No dia 13 de novembro, terá lugar a estreia mundial de 2012, uma superprodução de Hollywood que conta a saga dos que tentam desesperadamente sobreviver à catástrofe final. No site da Amazon, há 275 livros sobre 2012. Nos Estados Unidos, já existem lojas vendendo produtos para o apocalipse. Os itens mais comercializados são pastilhas purificadoras de água e potes de magnésio, bons para acender o fogo. É sinal de que os compradores estão preocupados com água e fogo, numa volta ao tempo das cavernas. Na Universidade Cornell, que mantém um site sobre curiosidades do público a respeito de astronomia, disparou o número de perguntas sobre 2012. Há os que se divertem, pois não acreditam na profecia. Entre os que acreditam, os sentimentos vão da tensa preocupação, como é o caso de Patrick Geryl, autor de três livros sobre 2012, todos publicados no Brasil, até o pavor incontrolável. O fim do mundo é uma ideia que nos aterroriza – e, nesse formidável paradoxo que somos nós, também pode ser a ideia que mais nos consola. Por isso é que ela existe.

No inventário dos fracassos humanos, talvez não haja aposta tão malsucedida quanto a de marcar data para o fim do mundo. Falhou 100% das vezes, mas continua a se espalhar, resistindo ao tempo, à razão e à ciência. As tentativas de explicar esse fenômeno são uma viagem fascinante pela alma, pela psique, pelo cérebro humano. Uma das explicações está no fato de que o nosso cérebro é uma máquina programada para extrair sentido do mundo. Assim, somos levados a atribuir ordem e significado às coisas, mesmo onde tudo é casual e fortuito. As constelações no céu, por exemplo, são uma criação mental para organizar o caos estelar. Ao enxergarmos as constelações de Órion ou Andrômeda, encontramos ordem e sentido. O dado complicador é que a vida, no céu e na terra, deve muito mais às contingências do acaso do que ao determinismo. O espermatozoide que fecundou o óvulo que gerou Albert Einstein foi um produto do acaso, resultado de uma disputa entre espermatozoides resolvida por milésimos de segundo. Assim como aconteceu, poderia não ter acontecido.

Recuando no tempo, a própria humanidade, analisada do ponto de vista científico, é fruto do acaso. Por um acidente, um peixe pré-histórico desenvolveu barbatanas que, à imitação de pernas ou patas, lhe permitiram enfrentar a gravidade da Terra e, assim, por acaso, viabilizou o desenvolvimento de vertebrados fora da água. Bilhões de anos depois, cá estamos nós, bípedes, inteligentes, comendo sorvete de morango, descobrindo a estrela mais antiga e nos deliciando com Elizabeth Taylor deslumbrante como Cleópatra. Tudo por acaso. A preponderância do aleatório sobre o determinado pode dar a sensação de desesperança, de que somos impotentes diante de todas as coisas. Talvez nisso residam a beleza e a complexidade da vida, mas o fato é que o cérebro está mais interessado em ordem do que em belezas complexas. Por isso, quando não vê significado nas coisas naturais, ele salta para o sobrenatural. “Nascemos com o cérebro desenhado para encontrar sentido no mundo”, diz o psicólogo Bruce Hood, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, autor de Supersense: Why We Believe in the Unbelievable (Supersentido: Por que Acreditamos no Inacreditável). “Esse desenho às vezes nos leva a acreditar em coisas que vão além de qualquer explicação natural.”

O achado de Hood foi descobrir que as crenças talvez não sejam fruto nem da religião nem da cultura, mas uma expressão de como o cérebro humano trabalha. É o que ele chama de “supersentido”. É o supersentido que nos leva a bater na madeira, dar valor afetivo a um objeto ou conversar com Deus. A religião seria uma criação mental através da qual o cérebro atende a sua necessidade por sentido. O apocalipse, nesse caso, é uma saída brilhantemente engenhosa. Explica duas questões que atormentam a humanidade desde sempre: o significado da vida e a inevitabilidade da morte. Somos a única espécie com consciência da própria morte e, no entanto, não sabemos o significado da vida. Afinal, por que estamos aqui? A pergunta, em si, revela nossa busca por sentido, devido à nossa dificuldade de conviver com a possibilidade de que, talvez, não estejamos aqui por alguma razão especial. O apocalipse é uma resposta. Está descrito nos seus mínimos e horripilantes detalhes no Livro do Apocalipse, escrito pelo evangelista João, por volta do ano 90 da era cristã, quando estava preso, perseguido pelo Império Romano.

O começo do fim do mundo, diz João, será anunciado por sinais tenebrosos: um céu negro, uma lua cor de sangue, estrelas desabando sobre a Terra e uma sucessão de desastres varrendo o planeta na forma de terremotos, inundações, incêndios, epidemias. O Anticristo então dominará a Terra por sete anos, ao fim dos quais Jesus Cristo descerá dos céus com um exército de santos e mártires – e vencerá Satã, a besta. Depois de 1 000 anos acorrentado, Satã conseguirá se libertar e forçará Jesus Cristo a travar uma segunda batalha, a terrível batalha do Armagedom. Derrotado Satã, todos nós, vivos e mortos, nos sentaremos no banco dos réus do tribunal divino. Os bons irão para o paraíso celestial. Os maus arderão no fogo eterno. É uma narrativa tão magicamente escatológica que Thomas Jefferson, o terceiro presidente dos Estados Unidos, a chamou de “delírio de um maníaco”. Bernard Shaw, o grande teatrólogo irlandês, disse que era o “inventário das visões de um drogado”. Delírio ou visões, o Livro do Apocalipse explica tudo. O professor Ralph Piedmont, do Loyola College, em Maryland, especialista em psicologia da religião, afirma: “O Apocalipse de João explica a morte, ao informar que vamos ressuscitar, e dá sentido à vida, ao dizer que é uma provação”.

Subsidiariamente, o apocalipse atende a outra necessidade humana, a de acreditar num mundo regido por uma ordem moral. Os historiadores atribuem o surgimento da visão apocalíptica ao persa Zoroastro, ou Zaratustra, que viveu uns 1 000, talvez 1 500 anos antes de Cristo. Ele foi o primeiro a falar de uma batalha cósmica entre o bem e o mal, mais tarde aproveitada pelos profetas Ezequiel, Daniel e, principalmente, João. “Num mundo em que, com frequência, os bons sofrem e os maus prosperam, a promessa de um julgamento moral é um consolo profundo”, diz Michael Barkun, professor de ciência política da Universidade de Syracuse, que estuda a relação entre violência e religião. Eis por que o fim do mundo aterroriza mas também pode nos consolar. Nem sempre o apocalipse vem numa embalagem religiosa. A profecia de 2012 começou com base em eventos astronômicos e calendários antigos. Só depois recebeu a adesão de seitas espiritualistas e cristãs, mas originalmente 2012 é, digamos, um fim do mundo pagão. Se não é um fim com prêmio aos bons e punição aos maus, então por que acreditamos em profecias que nunca dão certo?

A explicação começou a surgir nos anos 50, quando o brilhante psicólogo americano Leon Festinger (1919-1989) resolveu testar uma hipótese revolucionária: a de que, diante de uma profecia fracassada, os fiéis não desistem de sua crença, mas, ao contrário, se aferram ainda mais a ela. Festinger e seus colegas se infiltraram numa seita do fim do mundo e descobriram exatamente o que imaginavam. O grupo era formado por quinze pessoas e liderado por uma dona de casa de Michigan, Marion Keech, que fora informada por extraterrestres de que o mundo acabaria com uma inundação no dia 21 de dezembro – olha a data aí de novo – de 1954. Antes da catástrofe final, Marion e seguidores seriam resgatados pela nave-mãe e levados para um lugar seguro. Na data e hora marcadas, eles se reuniram para esperar o resgate, e não apareceu nave nenhuma. Passou uma hora, e nada. Duas horas, e nada. Eles estavam tensos e preocupados, alguns começando a dar sinais de descrença naquilo tudo, até que, quase cinco horas depois, Marion foi novamente contactada pelos extraterrestres com uma novidade redentora: o grupo ali reunido, com o poder de sua crença, espalhara tanta luz que Deus cancelara a destruição do mundo. Os membros reagiram com entusiasmo. Haviam encontrado um meio de acreditar que a profecia, afinal, estava correta.

O caso foi contado no livro When Prophecy Fails (Quando a Profecia Falha) e se tornou um dos fundamentos do que veio a se chamar teoria da dissonância cognitiva. É a inclinação que temos para reduzir o profundo desconforto provocado por duas informações conflitantes – no caso, a crença de que o mundo vai acabar e a evidência incontornável de que o mundo não acabou. Há exemplos mais rotineiros, como o sujeito que sabe que o cigarro pode matar e, no entanto, fuma dois maços por dia. Tem-se uma “dissonância cognitiva”, que precisa ser resolvida: ou o sujeito para de fumar ou racionaliza que o cigarro, no fundo, acalma, emagrece, seja o que for. Meio século depois, a tese de Festinger será ainda válida para explicar a crença inabalável em profecias finalistas? “É, ainda, a melhor explicação psicológica”, diz Daniel Gilbert, da Universidade Harvard, autor de um trabalho pioneiro sobre como enxergamos o futuro – com lupa, diz ele, sempre dando a sucessos ou fracassos importância muito maior do que efetivamente terão quando (e se) acontecerem.

As profecias do apocalipse são um desastre como previsão do futuro, mas excelentes como alegorias do presente. A coleção de afrescos e pinturas clássicas que retratam o Juízo Final, como a obra-prima de Michelangelo na Capela Sistina, reflete o temor do tribunal divino e o domínio da Igreja Católica de então. Depois da II Guerra, os filmes de Hollywood, grandes difusores da catástrofe final, passaram a enfocar o fim do mundo como resultado de uma guerra nuclear ou de um monstro deformado pela radioatividade. Estavam narrando as aflições dos americanos com a bomba de Hiroshima e Nagasaki e a chegada da corrida armamentista com a União Soviética. É o momento em que o apocalipse começa a ter duas fontes – a religião e a ciência. Nos anos 60, com as profundas transformações varrendo os EUA, da Guerra do Vietnã à revolução sexual, do advento do computador ao movimento dos direitos civis, dos Beatles a Woodstock, o apocalipse mudou de lugar. “O livro da revelação deixou o gueto cristão e entrou no coração da política americana e da cultura popular”, escreve Jonathan Kirsch em A History of the End of the World (Uma História do Fim do Mundo), um ótimo inventário do apocalipse.CADA ERA TEM O SEU ANTICRISTO
Escultura de Nero, imperador de Roma, corpos de judeus num campo de concentração nazista e o terrorismo islâmico derrubando as torres de Nova York: a ideia do apocalipse é um desastre como previsão do futuro, mas excelente como alegoria do presente

Desde os anos 50, cada década tem pelo menos uma dúzia de filmes apocalípticos dignos de nota, de Godzilla a Apocalypto, de O Planeta dos Macacos a Matrix, de O Bebê de Rosemary a Presságio. Eles sempre narram algo do seu tempo. Há estudiosos que acreditam que mesmo o Livro do Apocalipse teria sido uma resposta às perseguições que os cristãos sofriam no Império Romano – e a besta, o Anticristo, o Satã seriam Nero, o imperador que tocou fogo em Roma. Como os apocalipses tomam a forma de sua época, o Anticristo se atualiza. Na II Guerra, era Adolf Hitler. Hoje, é Osama bin Laden. Isso é claro nos EUA, cuja condição de potência acaba por difundir suas neuroses e seus achados para o mundo todo. O apocalipse na cultura? Antes, eram os hippies com sua percepção extrassensorial e drogas alucinógenas. Depois, no ano 2000, foi o tecnoapocalipse, na forma do bug do milênio. O apocalipse na política? Antes, era o Exército Vermelho. Agora, é o terrorismo islâmico. Como disse Eric Hoffer (1902-1983), que passou a vida como estivador e filósofo: “Movimentos de massa podem surgir e se espalhar sem a crença num deus, mas nunca sem a crença num diabo”.

Nenhuma das hipóteses do fim do mundo em 2012 mencionadas nesta reportagem faz sentido. O planeta Nibiru nem existe. A civilização maia, cujo auge se deu entre 300 e 900 da era cristã, tinha três calendários: o divino, o civil e o de longa contagem, que termina em 2012. “Mas os maias nunca afirmaram que isso era o fim do mundo”, diz David Stuart, da Universidade do Texas, considerado um dos maiores especialistas em epigrafia maia. Uma mudança no eixo de rotação da Terra é impossível. “Nunca aconteceu e nunca acontecerá”, garante David Morrison, cientista da Nasa, agência espacial americana. Reversão do campo magnético da Terra? Acontece de vez em quando, de 400 000 em 400 000 anos, e não causa nenhum mal à vida na Terra. Tempestade solar? Também acontece e em nada nos afeta. Derradeiro alinhamento planetário em que a Terra ficará no centro da galáxia? Não haverá nenhum alinhamento planetário em 2012, e, bem, quem souber onde fica “o centro” da nossa galáxia ganha uma viagem interplanetária. Mas Patrick Geryl, que se prepara para o fim do mundo, está certo de que tudo termina em 2012. E se não terminar? Geryl pensa, olha para o alto e responde: “Não existe essa hipótese”. Ele e seu grupo encontrarão uma boa explicação quando o dia raiar em 22 de dezembro de 2012. Afinal, é preciso se preparar para um novo fim do mundo.

Nota de rodapé

Os dez dias que sumiram

O calendário maia, dizem os apocalípticos, prevê o fim do mundo para o dia 21 de dezembro de 2012. Calendários, no entanto, são excelentes instrumentos para orientar sobre o compromisso da próxima quarta-feira, mas são um embuste para prever o futuro. As diversas civilizações – não só os maias, mas os egípcios, os chineses – criaram os próprios calendários, uns com base no Sol, outros com base na Lua, uns mais longos, outros mais curtos, mas todos sempre foram expressão da inclinação humana de atribuir ordem ao caos. Com o calendário, criamos a sensação de ordenar os dias, os meses e os anos num sistema cronológico racional e matematicamente preciso. Só que a natureza não é assim. Num delicioso livro lançado às vésperas do ano 2000, O Milênio em Questão, no qual se baseia este texto, o grande paleontólogo americano Stephen Jay Gould (1941-2002) escreveu: “A natureza, aparentemente, pode fazer um esplêndido hexágono, mas não um ano com um belo número par de dias ou rotações lunares”. E, com o humor que lhe era peculiar, acrescentou: “A natureza se recusa teimosamente a trabalhar com relações numéricas simples justamente naquilo em que sua regularidade seria mais útil para nós”.

Ou seja: os ciclos naturais dos dias, meses e anos não são redondos, pares perfeitos. São frações, números quebrados, e aí começa um problemão. Um ano – tempo que a Terra leva para dar uma volta completa em torno do Sol – não dura 365 dias. Dura 365 dias e algumas horas. Para facilitar a conta, arbitramos que um ano dura 365 dias e seis horas, ou um quarto de dia. Mas, como não podemos ter um quarto de dia, a cada quatro anos temos o ano bissexto, com 366 dias, o que recoloca nosso calendário em sintonia com o ano solar. Porém, a natureza, na sua magistral indiferença para com nossos números inteiros, na realidade não faz um ano de 365 dias e seis horas. São 365 dias e 5 horas, 48 minutos e 45,97 segundos! Isso quer dizer que o acréscimo do 366° dia cobre o descompasso ocorrido em cada quatro anos, mas imprecisamente. Como o tal descompasso não era de exatas 24 horas – era de 23 horas, 15 minutos e 3,88 segundos –, o ajuste feito pelo ano bissexto ainda nos deixa com um pequeno atraso em relação à natureza: um atraso de 44 minutos e 56,12 segundos a cada quatro anos. É pequeno, mas aumenta com o tempo. Em vinte anos, o atraso soma quase quatro horas. É tolerável. Em 100 anos, passa de dezoito horas. Começa a complicar. À medida que vai avançando, passa a embaralhar as estações do ano, a época certa para plantar, para colher, para pescar. Vira um, digamos, apocalipse.

Em 1582, o calendário da época, que vinha desde os tempos do Império Romano, já acumulava um atraso de dez dias em relação ao ano solar. Era demais, inadmissível. O papa Gregório XIII convocou então uma comissão de matemáticos para dar uma solução ao problema. Chegou-se a uma saída formidável. Com seu poder incontrastável sobre o destino da humanidade e do universo, o papa decretou o sumiço dos dez dias. Simples assim. Riscou fora. A humanidade foi dormir em 4 de outubro e acordou em 15 de outubro. O período de 5 a 14 de outubro de 1582 não existiu, jogando algumas dúvidas para as calendas gregas. O que aconteceu com quem fazia aniversário no período suprimido? E quem tinha conta para pagar num dia que sumiu? Pagou juros? Queixou-se ao papa? Resolvida a diferença de dez dias, a comissão achou outras soluções criativas. Para evitar que o descompasso dos anos bissextos voltasse a se alargar a longo prazo, estabeleceu que a cada século múltiplo de 100 – 1800, 1900, 2000, por exemplo – não haveria ano bissexto. Excelente. Mas a retirada do 366° dia seria provisoriamente excelente porque criaria um desequilíbrio lá adiante. Então, inventou-se outra compensação: de quatro em quatro séculos, o ano bissexto volta.

Parece confuso, mas é assim que funciona até hoje: de 100 em 100 anos, cai o ano bissexto; de 400 em 400, reinstala-se o ano bissexto. Com esses avanços e recuos, somas e diminuições, nosso calendário consegue dançar num movimento parecido com o balé irregular dos ciclos naturais. (Não é idêntico porque o calendário gregoriano ainda se distancia do ano solar em 25,96 segundos. É irrisório, leva mais ou menos 2 800 anos para chegar a um dia inteiro, mas perfeito é que não é.) Diante de tantos ajustes, a velha e boa folhinha de parede é um medidor preciso para o compromisso de quarta-feira, mas, com suas imprecisões em relação aos eventos astronômicos, não é exatamente boa para embasar previsões futuras.

Para fugir das confusões do ano solar, há quem prefira as previsões com base no mês lunar – tempo que a Lua leva para dar uma volta completa em torno da Terra. Na verdade, não resolve nada. Apenas se troca de problema. Para facilitar nossos cálculos, arbitramos que a Lua leva 29 dias e meio para dar a volta na Terra. Mas, na realidade, a Lua leva, precisamente, 29,53 dias – de novo, a caprichosa fração da natureza. Assim, se um ano tem doze meses e cada mês corresponde a uma lunação, a conclusão matemática é que um ano tem doze lunações. Era para ser, mas não é. As doze lunações, indiferentes à ordem humana, não levam 365 dias para se realizar, mas somente 354 dias, uma debochada diferença de onze dias em relação ao ano solar…! Por isso, é preciso que… Bem, diga-se apenas que é preciso recorrer à inventividade humana para conciliar o calendário e o universo. Fica claro que qualquer profecia anunciada com base em calendários, solares ou lunares, maias ou gregorianos, é mais ou menos uma brincadeira, pois nossas fórmulas numéricas, tão regulares e ordenadas, não traduzem a exata natureza dos eventos astronômicos, tão caóticos e irregulares. É quase como querer tirar a raiz quadrada do mar.

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A reconstrução da ministra

Posted by Marconi em 2009/10/31

À IMAGEM DO CHEFE
Dilma começa a trocar o uniforme de gestora eficiente pela fantasia
de candidata simpática: o objetivo é se apropriar do estilo de Lula para
herdar parte de sua popularidade

O governo e os marqueteiros moldam o novo perfil de Dilma Rousseff
a ser apresentado aos eleitores: mineira, simpática, afável, de discurso
simples e antenada com temas ambientais…

Depois de ser derrotado em três eleições, Lula reapareceu com a imagem remodelada na eleição de 2002. Passou a usar ternos bem cortados, cuidou da aparência e, principalmente, deixou de lado o discurso radical que assustava parte do eleitorado. A ministra Dilma Rousseff, candidata do governo à Presidência, está no mesmo laboratório operando sua transformação. Nos sete anos de ministério, Dilma ficou conhecida pela austeridade, inclusive no trato com auxiliares e colegas, pela falta de tato político, o que já lhe rendeu brigas e desafetos dentro do próprio partido, o PT, e pela dificuldade em se comunicar. Parecem problemas intransponíveis para quem deseja enfrentar com a mínima possibilidade de êxito uma campanha eleitoral que promete ser uma das mais acirradas dos últimos anos. A metamorfose já mostra os primeiros sinais. Na semana passada, durante a inauguração dos estúdios de uma emissora de TV, Dilma brincou de atriz com o presidente Lula, que manejava uma câmera. Depois, em um jantar com parlamentares do PP, fez questão de ir à cozinha cumprimentar os funcionários da casa. Em outro evento, em São Paulo, abraçou e beijou catadores de lixo que participavam de uma feira de reciclagem. Por fim, a ministra, que nunca teve muita afinidade com questões ambientais, tem revelado inédita preocupação ecológica, a ponto de ser nomeada para chefiar a delegação brasileira que vai participar de uma conferência da ONU sobre o clima.

“Dilma está mais simpática, mais sorridente e consciente do que se deve fazer em uma campanha”, afirma um membro de seu staff. Exemplo disso é que, há duas semanas, a ministra esteve em um almoço com correligionários do governador Eduardo Campos (PSB-PE) e, na chegada, cumprimentou apenas as autoridades presentes à mesa. Foi, depois, advertida pela falha. “Dá para perceber que é difícil para ela cumprir esse papel de candidata, mas ela tem se esforçado.” Os discursos e as opiniões da ministra também passaram a seguir um roteiro preestabelecido. Os discursos devem ser simples e carregados de metáforas de fácil entendimento, como os do presidente Lula. As opiniões emitidas sobre os temas de governo e de campanha também não podem divergir das defendidas pelo presidente. Nos últimos dias, Dilma foi criticada por estar antecipando a campanha eleitoral, o que é ilegal. Indagada sobre o assunto, a ministra se disse vítima de preconceito pelo fato de ser mulher. Ninguém entendeu o que uma coisa tem a ver com a outra, mas Dilma conseguiu, ao menos momentaneamente, safar-se da polêmica – exatamente como foi ensaiado com sua equipe de campanha, integrada por políticos, publicitários e jornalistas.

A ministra se reúne uma vez por semana com o “estado-maior” de sua campanha, como é chamado o grupo do qual fazem parte os ministros Franklin Martins (Comunicação Social) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, o deputado Antonio Palocci, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e o marqueteiro João Santana. Nesses encontros são discutidos os temas que serão abordados pela candidata-ministra e como ela deve tratá-los em suas aparições. Também são definidos a agenda de viagens e pontos da estratégia política da campanha. Nos fins de semana, Dilma reserva um dia, às vezes o sábado, às vezes o domingo, para se dedicar integralmente ao treinamento e à preparação da “candidata ideal”. Ao lado de João Santana e de sua equipe de marqueteiros, a ministra é submetida a sessões de entrevistas, debates simulados e pronunciamento para programas de TV. A postura, o tom de voz, o modo de encarar as câmeras e até a melhor roupa para cada ocasião são experimentados à exaustão. “Esse treinamento é normal para todo candidato em campanha. No caso da Dilma, porém, isso precisa ser intensificado porque ela não tem nenhuma experiência eleitoral. Estamos saindo do zero, fabricando um candidato”, explica um dos envolvidos na operação.

PALANQUE TECNOLÓGICO
O novo portal do PT na internet: alta tecnologia nas eleições

Em breve, o perfil de Dilma Rousseff ganhará o reforço de um detalhe desconhecido pela maioria dos eleitores. A ministra terá enfatizada sua condição de “candidata mineira”. Dilma nasceu em Belo Horizonte, em 1947, e estudou nos tradicionais colégios Sion e Estadual Central. Sua mãe cresceu em uma fazenda na região de Uberaba e seu pai trabalhou na siderúrgica Mannesmann, tradicional empresa no estado. Em Minas Gerais, ela atuou em grupos de oposição à ditadura e acabou presa. Essa origem, porém, é pouco conhecida, pois sua carreira pública foi, na verdade, construída no Rio Grande do Sul, para onde se mudou após deixar a prisão. Pela estratégia montada, Dilma será apresentada como a alternativa para Minas voltar a ter um presidente da República depois de quinze anos. O último foi Itamar Franco. Os auxiliares da ministra avaliam que, caso o governador paulista José Serra seja confirmado como candidato da oposição, ela pode atrair os votos dos eleitores mineiros, desde, é claro, que enxerguem nela uma legítima representante do estado.
Werther Santana/AE

REFORÇO ESTRANGEIRO
Ben Self, que fez a campanha de Obama, fechou com Dilma

A estratégia da ministra também passa pelo mundo virtual. Na semana passada, o PT inaugurou seu novo site, orçado em 600 000 reais, que terá canais de áudio e vídeo para ajudar a alavancar a candidatura de Dilma. Pelo site, também será possível arrecadar recursos a partir do início oficial da campanha, em julho. Extraoficialmente, porém, a máquina petista tem um raio de ação muito mais abrangente. Em abril passado, uma ficha criminal falsificada que relatava a participação da ministra em ações armadas contra o regime militar infestou a rede. O episódio levou os estrategistas de Dilma a importar o marqueteiro Ben Self, responsável pela parte digital da campanha do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Contratado por João Santana, Self esteve no Brasil duas vezes nos últimos cinco meses. Ele se reuniu com os coordenadores da campanha da ministra e sugeriu planos para reagir a esses tipos de ataque. Blogueiros e internautas estão sendo arregimentados para inundar as chamadas redes sociais com mensagens de apoio a Dilma e com ataques aos adversários. O trabalho custa entre 50 000 e 120 000 reais por mês e é realizado por empresas especializadas. “Tudo precisa ser clandestino. A força desse tipo de campanha é justamente a aparente espontaneidade das manifestações”, disse a VEJA um especialista da área. Oficialmente, nenhum político admite o envolvimento com seus fãs e detratores do mundo digital (veja o quadro na pág. ao lado).

Não há exemplo na democracia brasileira de um candidato “fabricado em laboratório” que tenha se tornado presidente. Antes da ditadura, não havia campanha eleitoral de massa, com TV e rádio. Por isso imperavam os grandes líderes políticos, capazes de costurar o apoio das lideranças regionais. Desde a redemocratização, todos os candidatos competitivos tinham biografia política significativa. Mesmo os políticos mais próximos de Lula consideram essa metamorfose uma incógnita. Diz Gaudêncio Torquato, professor de marketing eleitoral da USP: “Todo candidato tem sua identidade, representada pelo caráter, personalidade e estilo. E há a imagem, projetada pelos publicitários, para que ela se torne mais palatável aos eleitores. Se essa imagem for muito diferente da identidade, há o risco de o candidato parecer falso e artificial ao eleitor, afugentando seu voto”.

Guerrilha virtual

As eleições de 2010 contarão com um campo de batalha novo que pode tanto ajudar a esclarecer como confundir os eleitores e acirrar ainda mais a disputa entre os candidatos: a guerrilha virtual. Na Bahia, um vídeo de cerca de dois minutos azedou de vez as relações pouco amistosas entre o governador Jaques Wagner e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, prováveis adversários na disputa estadual do ano que vem. Intitulado Quero Morar na Propaganda do Governo da Bahia, o filme se transformou em hit na internet. Postado há apenas duas semanas, já foi visto por mais de 40 000 pessoas. É uma bem-humorada e aparentemente ingênua crítica à propaganda oficial do governo da Bahia. “Quero morar na propaganda do governo da Bahia / Lá é tudo maravilha / Tão diferente do que vejo no meu dia a dia”, repete o refrão de um samba, enquanto imagens supostamente reais do dia a dia se contrapõem à versão edulcorada da propaganda oficial exibida na televisão. O vídeo foi postado anonimamente, impedindo que seus autores possam ser identificados e punidos, eventualmente, por antecipar a disputa eleitoral.

Apesar de o vídeo ter sido identificado como obra de um tal Aparício Monteiro, que o colocou no site YouTube, o governo baiano enxergou na peça as impressões digitais de Geddel Vieira Lima, que disputará a eleição para o governo no ano que vem contra Jaques Wagner. O ministro, que integra o governo do presidente Lula, rompeu com Wagner recentemente de olho em sua cadeira de governador. “Infelizmente, não fui eu que fiz. Mas concordo com todo o seu conteúdo”, diz. O publicitário baiano Maurício Carvalho, a quem os petistas atribuem o vídeo, é amigo de Geddel. Sua agência, a Ideia3, trabalha para a prefeitura de Salvador, na qual o ministro tem forte influência. “Infelizmente, não fui eu que fiz. Mas até gostaria de dizer que fui eu, já que o vídeo é um sucesso”, afirma o publicitário. Apesar das negativas, o ministro e o publicitário baianos estão sendo festejados nos meios políticos e publicitários pelo pioneirismo da estratégia eleitoral na internet com a qual eles, “infelizmente”, não têm nenhuma relação.

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Uma droga brutal

Posted by Marconi em 2009/10/31

DEGRADAÇÃO
Bruno Kligierman, em dois momentos: temporariamente livre
da droga e arrasado pelo crack, que o fez matar Bárbara

Assassinato de jovem no Rio expõe o drama do crack,
que ainda não tem a devida atenção das autoridades de saúde…

O carioca Bruno Kligierman, de 26 anos, começou a beber quando tinha 14. Pouco depois, largou os estudos. As bebedeiras se alternaram com mergulhos nas drogas, como maconha, ácido, cocaína e, mais recentemente, crack. Bruno chegou a virar mendigo. O desfecho trágico dessa trajetória deu-se na manhã de 24 de outubro. Sob efeito de crack, ele estrangulou a estudante Bárbara Calazans, de 18 anos, a quem chamava de “meu anjo da guarda”. A notícia chegou ao pai de Bruno, o produtor cultural Luiz Fernando Prôa, por um telefonema do próprio filho. Prôa chamou a polícia e rumou para o local do crime – o apartamento do rapaz, no Flamengo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Bruno está preso. Pode pegar até vinte anos de cadeia por homicídio ou cumprir pena no manicômio judiciário, se comprovar sua dependência química. “Ele foi seu próprio carcereiro”, resume o pai.

A história de Bruno tem contornos próprios, como a de qualquer pessoa. Foi abandonado pela mãe quando tinha apenas 2 anos e passou mais de vinte anos afastado dela. Quando eles retomaram contato, neste ano, ela estava com aids e morreu menos de um mês depois. Mas, para além do sofrimento que pode tê-lo levado ao vício, e da dor que provocou agora ao seu redor, existe uma tragédia social que ainda não é objeto da devida preocupação por parte das autoridades de saúde. O crack é uma droga especialmente perigosa. Provoca acelerada degradação física e mental e causa dependência rapidamente. Com o uso regular, vem a paranoia, a sensação de estar sob constante ameaça. A reação a esse quadro é violenta. O crack brutaliza. Põe em risco quem se vicia e, frequentemente, as pessoas que estão à sua volta. Por isso, as famílias que enfrentam esse drama sofrem agudamente com a precariedade da rede pública de atendimento, onde é difícil conseguir vaga para internação e são raras as unidades ambulatoriais pre-para-das para lidar com viciados nessa droga.

O desafio é mundial. Na Inglaterra, que tem programas bem-sucedidos no atendimento a dependentes de heroína e outras drogas pesadas, os resultados das políticas públicas voltadas para o crack são modestos. No Brasil, o atendimento à saúde mental, que já tinha problemas, ficou ainda mais caótico com a enxurrada de vítimas de crack. A epidemia se alastrou num momento de mudança na política de saúde mental no país. Desde 2001, com a aprovação da Lei nº 10216, a internação deixou de ser encarada como pilar do tratamento de distúrbios psi-quiátricos. A ideia é internar apenas pacientes com quadro agudo, que precisam de cuidados especiais e atenção constante por determinado período. E, superada essa fase, transferi-los para uma rede ambulatorial externa.

Faz todo o sentido. No entanto, em decorrência dessa nova política, fecharam-se 16 000 leitos psiquiátricos – mais de 30% do total. E o sistema ambulatorial ainda não engrenou. O número de unidades destinadas a dependentes de álcool e drogas é ínfimo – apenas 200, de um total de quase 1 400. Com escassas possibilidades de internação ou tratamento ambulatorial, os pacientes ficaram entregues à própria sorte. “A simples eliminação de leitos de internação deixou um rombo na rede de atendimento”, diz o psiquiatra Mauro Aranha, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. O efeito desse colapso é que os dependentes químicos acabam empurrados para centros de reabilitação que, em muitos casos, não têm nem autorização para funcionar. O alto preço da internação leva famílias a se desfazer de seus bens para custear o tratamento. Em geral, os planos de saúde cobrem apenas quinze dias de internação.

Subproduto da cocaína em forma de pedra – que estala quando é queimada, daí o nome –, o crack chegou ao Brasil na década de 90. Durante um bom tempo, ficou restrito a indigentes que perambulavam pelo centro de São Paulo. Hoje, a situação é bem diferente. As pedras se espalharam pelo território e por todas as classes sociais. Ainda não há estatísticas – o Ministério da Saúde está concluindo o primeiro estudo voltado especificamente para o crack. Mas o aumento de dependentes em consultórios psiquiátricos e em clínicas de reabilitação mostra que a epidemia se alastra rapidamente. No Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, até dois anos atrás não havia usuários de crack. Hoje, eles representam quase 30% da demanda. Para enfrentar a epidemia, o Ministério da Saúde anunciou investimentos de 117 milhões até o ano que vem em melhorias na rede de saúde mental. Espera-se que a ajuda chegue a tempo.

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Linha branca mais verde

Posted by Marconi em 2009/10/31

SELO AMBIENTAL
Fábrica de máquinas de lavar: imposto mais baixo para modelos mais eficientes

Manter a redução do IPI apenas para os eletrodomésticos
que consomem menos energia é uma medida eficaz…

O governo federal decidiu prorrogar a redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI) para eletrodomésticos da chamada linha branca pelos próximos três meses. A iniciativa trouxe mudanças. De novembro até o fim de janeiro, quando expira o novo prazo, a alíquota estará condicionada ao consumo de energia do produto. Quanto mais eficiente ele for, menor o imposto pago. A justificativa para o adiamento, que custará aos cofres públicos estimados 132 milhões de reais em isenções, foi manter aquecidas as vendas do fim do ano e, assim, incentivar a criação de empregos. Além disso, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a medida foi pensada para incentivar a economia de energia e colaborar na preservação ambiental. Num único lance, o governo procurou atender às reivindicações dos empresários do setor, angariar apoio popular e ainda abrandar a fúria dos ambientalistas desde a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente.

O anúncio foi bem recebido por comerciantes e fabricantes. “O governo se mostrou sensível ao facilitar a compra de produtos antes considerados de luxo. Toda a cadeia produtiva sai ganhando e novas vagas de trabalho deverão ser abertas”, afirmou a VEJA Luiza Trajano, presidente da rede de lojas Magazine Luiza. Produtos com o selo A, os mais eficientes na escala do Inmetro (veja o quadro), gastam em média 20% menos energia, no caso, por exemplo, das máquinas de lavar. O problema é que muitas vezes esses eletrodomésticos são mais caros, o que desestimula sua venda. Por isso, na avaliação de Patricio Mendizábal, presidente da fabricante de eletrodomésticos Mabe Mercosul, o estímulo não deveria ser apenas transitório: “Os tributos são muito elevados. Além disso, a indústria não conseguirá substituir, em apenas três meses, toda a sua linha por produtos que sejam ecologicamente corretos”. Se for para cobrar menos impostos, que o governo ouça a reivindicação.

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Nosso sócio é um desastre

Posted by Marconi em 2009/10/31

CORONEL FALASTRÃO
Graças a Chávez, a Venezuela está se tornando uma nova Cuba: produção em queda, presos políticos e, agora, apagões diários

Fomos ver de perto como funciona a economia do novo membro
do Mercosul. O cenário é chocante. A cubanização da Venezuela
já destruiu a produção de bens e alimentos…

O Brasil acaba de aceitar um sócio de alto risco. Na quinta-feira da semana passada, a Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou a adesão da Venezuela ao Mercosul. O assunto seguirá agora para votação no plenário, onde a maioria governista deve referendar a decisão. Como Uruguai e Argentina já deram sinal verde, só falta o aval do Senado do Paraguai. Não se tem ideia de como o coronel Hugo Chávez fará para cumprir as cláusulas democráticas do Mercosul. Seu governo é autoritário, persegue opositores, jornalistas e pretende prolongar-se indefinidamente. Como sócio, Chávez terá poder de veto nos acordos comerciais entre os países do Mercosul e o restante do mundo – e não é difícil imaginar o estrago que sua preferência pelas piores parcerias (Coreia do Norte, Irã e Cuba) pode causar. Felizmente, Chávez não é a Venezuela, e um dia o país voltará à democracia e ao progresso.

Até que isso ocorra, Chávez será outra perturbação numa instituição estagnada. Não há acordo entre os membros do Mercosul sobre os próximos passos, as políticas comuns nunca saíram do papel e cada governo se queixa do protecionismo do vizinho. Na campanha presidencial no Uruguai, falou-se abertamente em deixar o bloco e assinar livremente acordos com os Estados Unidos e a União Europeia. Na semana passada, o Brasil adotou represálias comerciais contra a Argentina, que há anos impõe restrições à entrada de produtos brasileiros. A Venezuela é um bom parceiro comercial do Brasil. Nos últimos dez anos, a exportação de produtos brasileiros para aquele país multiplicou-se quase dez vezes. O superávit a favor do Brasil beira os 5 bilhões de dólares. Nada a ver com o Mercosul. Muitos dos negócios foram facilitados pura e simplesmente pela destruição da capacidade produtiva doméstica em razão do malfadado socialismo do século XXI de Chávez.

Em cinco anos, desde que o coronel se declarou comunista, mais de cinquenta companhias de grande porte e 2,5 milhões de hectares de terra foram estatizados. Mais de 250 000 cooperativas foram criadas para substituir as empresas “burguesas”. O resultado é desastroso. A produção das companhias nas mãos do estado caiu 40%, enquanto o número de funcionários duplicou. De todas as terras ocupadas, apenas 2% continuam a produzir. Das cooperativas criadas, 96% já foram desfeitas. Não se pode acusar Chávez de ter mentido sobre suas intenções. “Produtividade e rentabilidade são conceitos do malvado capitalismo e do neoliberalismo”, disse o coronel, com sinceridade.

VEJA foi ver de perto o processo de cubanização em curso no país que aceitamos como sócio. Durante sete dias, uma equipe de jornalistas visitou indústrias e fazendas cubanizadas em oito cidades. Um caso exemplar é a Alcasa, fábrica de alumínio em Cidade Guayana, polo industrial a 530 quilômetros de Caracas. Em 2005, o controle da estatal foi entregue aos trabalhadores em regime de cogestão. A primeira providência deles foi realizar uma eleição para a escolha dos cargos de direção. A título de preparação para os novos cargos, os eleitos receberam cursos sobre o “Pensamento econômico de Che Guevara” e de guerrilha, pomposamente rebatizada de “guerra assimétrica contra o imperialismo”. Na visão do então presidente da companhia, o professor de educação física Carlos Lanz, a prioridade nunca foi produzir, e sim “criar pequenas unidades que possam empregar armamentos básicos: fuzis e lança-foguetes, ou em seu lugar explosivos de maior escala”.

INEFICIÊNCIA
Trabalhadores que assumiram a direção da Alcasa: produção pela metade, mas com o dobro do pessoal

Uma unidade de milicianos foi montada dentro da empresa, comandada pelo chefe de RH. O número de empregados dobrou, enquanto a produção desabava. Na semana passada, das 684 células de produção de alumínio, 316 estavam paradas por falta de manutenção. “Estamos no meio de um processo, aprendendo como as coisas funcionam”, explicou a VEJA Alcides Rivero, um dos coordenadores do Controle Obreiro, a organização de empregados. O descaso com os direitos trabalhistas é um ponto em comum nas empresas socialistas. A falta de equipamento de segurança tornou-se crônica. Na PDVSA, a estatal petroleira, funcionários que deixam o turno precisam entregar as botas de borracha aos que entram. Os coletes salva-vidas dos que trabalham no mar estão em trapos. Muitas vezes, os próprios empregados compram capacetes e equipamentos de proteção. “Os equipamentos de segurança na estatal nunca foram bons. Agora, estão ainda piores”, disse a VEJA José Bodas, dirigente sindical da PDVSA.

Os salários estão congelados, apesar de a inflação anual ultrapassar os 30%. Quem ousa reclamar ou promover greve é punido. Rubén González, sindicalista faz quinze anos na Ferrominera Orinoco, em Cidade Piar, está há um mês em prisão domiciliar. Chavista no passado, González organizou uma greve em agosto pedindo o pagamento retroativo de um aumento salarial. Depois da paralisação, foi preso por seis dias sob acusação de incitar a delinquência. Solto, foi condenado à prisão domiciliar. “Meu crime foi defender os trabalhadores”, disse González a VEJA. Aos 50 anos, ainda é membro do PSUV, o partido de Chávez. “Isso não é socialismo, porque não há igualdade. Nós, trabalhadores, somos discriminados”, diz. Até o momento, o governo chavista já processou 64 dirigentes sindicais. Nas palavras do jornalista Damián Prat, que escreve no Correo del Caroní, Chávez entrará para a história por ter criado o “estatismo selvagem”.

A devastação chavista é ainda mais virulenta no campo. As invasões de terra estão a cargo das Forças Armadas. Há sete meses, Orlando José Polanco teve sua fazenda de 2.200 hectares no município de Simón Planas tomada por 1.000 soldados. Logo depois chegaram quinze tratores para começar a arar a terra. Com o movimento das máquinas ao fundo, Hugo Chávez gravou no local o Alô Presidente, seu programa dominical na televisão. Uma semana depois, todos os tratores estavam quebrados. “Há muitas pedras no solo aqui. É impossível arar ou plantar feijão”, diz Polanco. “Eles não sabem o que fazem.” A casa do vigia, dentro da propriedade, transformou-se em um posto da polícia militar. A 10 metros de distância ainda se vê um ninho de metralhadoras, deixado pelo Exército.

Nem os pequenos proprietários estão a salvo. No mês passado, um helicóptero Superpuma da Aeronáutica, com capacidade para vinte pessoas, pousou na fazenda San José, de 71 hectares, em Barquisimeto, levando a bordo o presidente do Instituto Nacional de Terras e o ministro da Agricultura. Bandeiras foram hasteadas, houve discursos e, uma semana depois, chegaram 250 integrantes da milícia campesina. Eles vestem camisa vermelha, pintam o rosto com tinta de camuflagem e cantam hinos revolucionários. “Aconteceu tanta coisa em apenas um mês que acho que não tenho mais medo de nada. Estou pronto para o pior”, disse a VEJA Oscar Martinez, que plantava milho e criava gado para corte na San José. Martinez e outros agricultores lembram com saudade de quando a Venezuela exportava café, milho, arroz e laranja. Antes de Chávez, o país produzia 90% do açúcar e 76% da carne que consumia. Hoje, a produção doméstica só dá conta de 30% e 45%, respectivamente.

Os apagões quase diários e sem aviso prévio, que duram entre duas e cinco horas, são outro exemplo da ineficiência socialista. Apenas a cubanização explica como um país instalado sobre a quinta maior reserva de petróleo do planeta padece de escassez de eletricidade. A incapacidade administrativa do chavismo pode ser medida em números. Por falta de manutenção, só está em operação metade das vinte turbinas de Guri, a principal hidrelétrica do país. A maior termelétrica, Planta Centro, opera com reles 6,5% da capacidade instalada. Na Electricidad de Caracas (EDC), a produção já é 5% menor que a de dois anos atrás, quando foi estatizada. A Edelca, estatal de geração de energia hidrelétrica, era considerada um exemplo de eficiência. No ano passado, pela primeira vez, não registrou lucro. Seus fornecedores não recebem há quatro meses. Nos últimos quatro anos, o número de funcionários subiu de 3.500 para 5.600.

PALAVRAS DE ORDEM
Entrada da Invepal, estatal de papel, em Morón: ideologia
e prejuízos

A única consequência positiva da devastação do sistema produtivo é a queda da popularidade de Chávez. Com os alimentos escassos, salários congelados, falta de água e luz, os venezuelanos começaram a entender o significado real do que diz o presidente falastrão. Segundo as pesquisas, apenas 17% votariam por Chávez se as eleições fossem hoje. Há um mês, eram 31%. A desastrosa transição para o socialismo só não levou o país ao colapso total porque o presidente conta com o dinheiro da venda do petróleo. Estima-se que Chávez tenha gasto 900 bilhões de dólares em dez anos, metade dos quais proveniente da exportação petrolífera. Em termos de desabastecimento, a vida no país assemelha-se bastante à de Cuba: há escassez de papel higiênico, sabonetes, farinha e leite. Nos supermercados estatais, a lista com os produtos disponíveis é fixada na porta a cada manhã. Quase todos os alimentos são importados. A diferença entre Venezuela e Cuba é que o primeiro país tem quase o triplo da população do segundo e guarda petróleo em seu subsolo. Com gente e dinheiro, a Venezuela é um mercado muito mais atraente para o Brasil que a ilha caribenha. Já Chávez é tão ruim para seu povo quanto os caquéticos irmãos Castro.

REPRESSÃO AOS SINDICATOS
Rubén González, sindicalista em Cidade Piar, organizou uma greve em agosto na Ferrominera Orinoco. Passou seis dias na cadeia e agora está em prisão domiciliar sob acusação de incitar a delinquência e fechar vias públicas. Um carro da polícia passa periodicamente em frente a sua casa. Se colocar os pés na rua, vai para o xadrez. “Meu crime foi defender os trabalhadores”, diz

NO ESCURO
Yaritagua, a 250 quilômetros de Caracas, sofre com dois apagões diários desde junho. Sem poder usar o ar-condicionado ou ver televisão, a família de Rafael Adan, 32 anos, passa parte das noites na calçada, conversando e olhando o fluxo de carros. Ele trabalha em uma funerária, ao lado de sua casa. “Muitas vezes não posso atender clientes porque não há luz”, diz

INVASÃO MILITAR
Em sua fazenda de 71 hectares na cidade de Barquisimeto, Oscar Martinez plantava milho e criava gado de corte. No fim de setembro, sua terra foi tomada pelo Exército. Atualmente, sua propriedade serve de base para integrantes de uma unidade da milícia campesina. Ali, eles recebem instrução militar e cantam hinos contra a “oligarquia”. “Estou pronto para o pior”, diz o proprietário rural

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Perdeu o Bigodão

Posted by Marconi em 2009/10/31

Manuel Zelaya
Ele tinha mais poder na embaixada brasileira do que terá na Presidência de Honduras

Acordo imposto pelos Estados Unidos põe fim à crise e reserva
para Manuel Zelaya um papel simbólico até as eleições no fim deste mês…

O poder dos Estados Unidos está sendo abertamente desafiado no Oriente Médio por titubean-tes governos aliados e ataques terroristas de proporções monstruosas. Na vizinhança de casa, pelo menos, a força do império se fez sentir. Em apenas dois dias, diplomatas americanos puseram um fim à crise em Honduras. A OEA e o Nobel da Paz Oscar Arias nada conseguiram em quatro meses de negociações. As conversas entre o presidente deposto, Manuel Zelaya, e seu substituto interino, Roberto Micheletti, terminaram na semana passada, depois de um encontro mediado por Thomas Shannon, subsecretário de Estado americano para a América Latina e futuro embaixador no Brasil. Ao Congresso hondurenho cabe ainda aprovar, após ouvir a opinião da Corte Suprema, a volta de Zelaya. Vai aprovar. Zelaya venceu? Não. O bigodão perdeu. Ele terá menos poderes na Presidência do que tem na embaixada brasileira, onde se instalou há um mês. Sua volta é simbólica. Enquanto ele estiver ocupando o cargo, as Forças Armadas responderão ao Supremo Tribunal Eleitoral hondurenho. A restituição do aspirante a golpista bolivariano – deposto por tentar aprovar a própria reeleição, o que é proibido pela Constituição – será apenas uma formalidade a ser cumprida para não manchar a credibilidade das eleições presidenciais, marcadas para 29 de novembro. Sem o acordo, o resultado das urnas não seria reconhecido pela maioria dos países, o que colocaria Honduras num limbo internacional.
Yuri Cortez/AFP

Retorno à normalidade
Micheletti anuncia o acordo: interino

O acordo forçado pelos Estados Unidos também prevê que não haverá anistia política e que uma comissão será organizada para averiguar os acontecimentos dos últimos meses. A decisão firme da diplomacia americana em Honduras contrasta com a hesitação do governo de Barack Obama em outros problemas de política externa, como a recusa do Irã em cooperar com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o envio de mais tropas para o Afeganistão e a leniência do governo do Paquistão com as milícias do Talibã.

Embora o presidente Micheletti tenha afirmado que fez uma “concessão significativa” para resolver a crise no país, o fato é que o acordo sela o fim da carreira política de Zelaya. Ele terá de deixar a Presidência em janeiro e vai ser julgado pelos crimes dos quais é acusado: traição à pátria, abuso de autoridade, delito contra a forma de governo e usurpação de funções. A democracia hondurenha seguirá muito bem sem ele. As eleições presidenciais serão disputadas por seis candidatos, e o favorito é Porfirio Lobo, do Partido Nacional, que faz oposição à Zelaya. Para o governo brasileiro, depois de tanto empenho na crise hondurenha, sobraram as tarefas de aplaudir a diplomacia americana e responder na Corte Internacional de Justiça, de Haia, à acusação de ingerência nos assuntos internos de outro país.

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Testemunha do início de tudo

Posted by Marconi em 2009/10/31

Luzes do colapso
Os raios gama emitidos pela GRB 090423: as estrelas ainda eram uma novidade há 13 bilhões de anos

A explosão estelar mais antiga já observada pelo homem,
ocorrida apenas 630 milhões de anos após o Big Bang, pode
trazer informações valiosas sobre os primórdios do universo…

Em abril deste ano, o observatório espacial americano Swift captou um feixe de raios gama proveniente de uma explosão no espaço. Sempre que isso acontece, astrônomos do mundo inteiro se empenham em analisar o fenômeno para descobrir sua origem. Afinal, as explosões de raios gama são as mais violentas e luminosas que se observam no cosmo. Na semana passada, cientistas italianos e ingleses apresentaram novas conclusões sobre a luz captada pelo Swift – e elas trazem uma ótima notícia. A radiação provém do colapso de uma estrela ocorrido há 13 bilhões de anos, apenas 630 milhões de anos após o Big Bang, a expansão súbita que originou o universo. Batizada de GRB 090423, a estrela é o objeto celeste mais antigo já observado pelo homem. A estrela mais antiga descoberta até então, observada em setembro do ano passado, explodiu quando o universo tinha 825 milhões de anos. A observação de corpos celestes como a GRB 090423 aumenta as chances de desvendar o que se passava no universo entre sua origem e a formação das primeiras galáxias – já observadas pelo telescópio Hubble – há 12,8 bilhões de anos.

Os astrônomos esperam que as estrelas antigas ajudem a compreender o período entre 300 000 e 900 milhões de anos que os astrônomos chamam de idade das trevas. Nesse intervalo, criou-se no universo um ambiente de intensa interação de partículas que impediam a propagação da luz. Isso dificulta a observação astronômica e explica a lacuna de conhecimento sobre o período. A descoberta de estrelas é importante porque foram elas as responsáveis pela mudança nesse cenário. “Os fótons emitidos por estrelas brilhantes criaram condições para o surgimento de estruturas mais complexas, como as galáxias”, disse a VEJA a astrofísica brasileira Duilia de Mello, da Nasa.

A GRB 090423 integra justamente as primeiras gerações de estrelas que puseram fim à idade das trevas. Descobriu-se sua idade por meio da análise do espectro de luz emitido pelos raios gama. Os astrônomos notaram que os raios eram emitidos apenas numa certa faixa de comprimento de onda. Usando dados sobre a velocidade de expansão do universo, chegou-se ao cálculo de 630 milhões de anos a partir do Big Bang. As explosões de estrelas gigantescas, às vezes seguidas da criação de buracos negros, são fontes frequentes de emissões de raios gama no espaço. Esses raios também carregam informações sobre os elementos presentes no universo e suas condições físicas no período em que a estrela existiu. Os astrônomos depositam grandes esperanças nesse campo de estudo para desvendar as condições em que o universo iniciou sua evolução. O telescópio espacial James Webb, que será lançado pela Nasa em 2014, terá entre suas tarefas principais buscar gerações precoces de estrelas.

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Más notícias, presidente

Posted by Marconi em 2009/10/31

80% nas pesquisas
não credenciam Lula a ser repórter ou editor. A razão é simples: não existe jornalismo a favor.

Fora a tentativa de expulsar o correspondente do New York Times, Lula nunca levantou a mão contra a liberdade de expressão. Mas a língua não perde chance de atacar a imprensa…

Por que Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e o casal Kirchner tratam a imprensa como inimiga? Porque na Venezuela, na Bolívia, no Equador e na Argentina de seus sonhos não há lugar para jornais, revistas e redes de televisão independentes. Para essa gente, notícia é só aquilo que seus ministros da propaganda dizem que é notícia. Todos eles suprimiram a liberdade de imprensa ou estão em via de fazê-lo. Esperam um dia atingir o controle total da informação obtido pelas grandes ditaduras do século passado, prática que é mantida ainda por seus irrelevantes sobreviventes atuais: Cuba e Coreia do Norte. Nesses países não existe imprensa. Não existem repórteres. Não existem jornais. Não existe democracia. Não existe liberdade. Portanto, não existe notícia. Cubanos e norte-coreanos vivem vidas miseráveis, privados das mínimas exigências da subsistência civilizada, mas os papéis pintados periódicos daqueles países não relatam a triste realidade.

Por onde se olha na América Latina, há um governante com a ideia fixa de que seus fracassos seriam menos gritantes se só existisse a imprensa oficial. O Brasil vinha sendo a excepcionalidade na região. Agora o próprio presidente Lula está desenhando o que ele imagina ser a imprensa ideal. “Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar”, disse Lula há duas semanas. Na quinta-feira passada, ele voltou à carga com o seguinte discurso, direcionado a repórteres que cobriam uma cerimônia que reunia catadores de papel, em São Paulo: “Hoje vocês têm a oportunidade de fazer a matéria da vida de vocês. Se vocês esquecerem a pauta do editor de vocês e se embrenharem no meio dessa gente (…) Publiquem apenas o que eles falarem. Não tentem interpretar”.

É espantoso. Lula não lê jornais. Mas quer ensinar como editar jornais. Má notícia, senhor presidente. Ter 80% de popularidade não credencia ninguém a ser repórter ou editor. Não existe jornalismo a favor. Não existe jornalismo feito pelo estado. Não é atributo do Poder Executivo traçar limites para o exercício da imprensa. A liberdade de expressão não pertence ao universo oficial dos gabinetes executivos, não tangencia os planos de governo e não obedece às orientações dos ministérios da propaganda. Seus limites estão estabelecidos na Constituição e eternizados na cultura dos países democráticos. Os próprios leitores e a Justiça punem os jornalistas que ultrapassam os limites éticos.

A imprensa tem sido vilanizada no Brasil por duas razões principais. A primeira decorre da noção primitiva que alguns ideólogos do petismo têm do Brasil, que para eles é uma grande e simplória terra ideal: a “PTópolis”, habitada por pessoas que têm papéis claramente definidos, como a Patópolis, de Walt Disney. Os habitantes de PTópolis também são divididos em classificações rígidas. Existem os que ocupam o andar de cima e os do andar de baixo; os pretos e os brancos; os ricos e os pobres; os bons e os maus; os produtores e os usurários; os amigos e os inimigos do rei… A segunda razão é o fato de que, quando a cúpula de PTópolis e seus corruptos do coração produzem escândalos – e eles os produzem aos montes –, a culpa nunca pode ser do líder ou de seus próximos. A imprensa livre é um estorvo em PTópolis. Ela insiste em investigar, fiscalizar e dar nome aos bois. Em PTópolis, idealmente, só deveriam exercer o jornalismo as pessoas designadas para isso pelo estado. No mundo perfeito de PTópolis não há lugar para algo imperfeito, barulhento, enxerido, investigativo, teimoso, livre, falível e, algumas vezes, até irresponsável como é a imprensa. PTópolis: ame-a ou deixe-a!

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Nota zero em gestão…

Posted by Marconi em 2009/10/31

CASO RARO
A diretora Maria de Fátima, em São Paulo: há doze anos na mesma função.

Uma pesquisa da Fundação Victor Civita mostra que, no Brasil,
os diretores de escola pública gastam tempo demais com
burocracia e pouco com as questões da sala de aula…

Está provado que a presença de um bom diretor não é apenas desejável – mas decisiva – para um elevado nível de ensino numa escola, seja ela pública, seja particular. Por isso, merece atenção uma nova pesquisa que traz à luz o mais completo perfil já feito sobre esses profissionais no país. Antes do levantamento, que ouviu 400 diretores de colégios públicos no país inteiro, o conhecimento que se tinha sobre eles era, basicamente, intuitivo. Agora, tratou-se de mensurar a realidade – e dimensionar os problemas. Logo de saída, a pesquisa, conduzida pelo Ibope em parceria com a Fundação Victor Civita, mostra que 64% dos diretores reconhecem, sem rodeios, não estar suficientemente preparados para exercer o cargo que ocupam. Quando eles versam sobre o ofício, as fragilidades ficam ainda mais evidentes. A pesquisa indica que os diretores não costumam basear suas decisões em nenhuma meta acadêmica e chegam a ignorar a nota de sua escola nos rankings oficiais. Talvez o mais preocupante de todos os dados, no entanto, diga respeito à visão que eles têm da função: apenas 2% deles se sentem responsáveis pelos maus resultados de sua própria escola, ao passo que os outros 98% culpam pais, professores, alunos, o colégio e até o governo. Conclui o especialista Francisco Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais: “É preciso mudar urgentemente esse cenário para começar a pensar em bom ensino”.

Não é tarefa simples. Há, no Brasil, pelo menos dois grandes obstáculos. A começar pela formação dos diretores – a maioria egressa da carreira de professor -, dos quais não se requer nenhuma experiência como gestores nem a passagem por um curso em que desenvolvam habilidades como a liderança de equipe. A pesquisa mostra que 21% deles só estão no cargo porque algum político os indicou, enquanto apenas 5% ascenderam por critérios técnicos. “Não há no país um sistema eficiente para escolher e treinar profissionais de modo que se tornem bons líderes nas escolas”, avalia Mário Aquino, especialista em administração pública. O segundo ponto que atrapalha no Brasil é o excesso de tarefas burocráticas delegadas aos diretores, situação que leva a uma total inversão de prioridades. Para 90% deles, a supervisão da merenda fornecida pelo governo é uma das atividades que mais consomem tempo, além da limpeza do prédio e da fiscalização na entrega do material didático pelas secretarias de ensino. São informações que escancaram a absoluta desconexão dos diretores brasileiros com a sala de aula. “Só sobra tempo para a educação se eu deixar de lado as tarefas administrativas pelas quais também sou cobrada”, resume Maria de Fátima Borges, 55 anos, diretora da escola Olavo Pezzotti, em São Paulo. “Estou sempre devendo relatórios à secretaria.”

ROTINA ÀS AVESSAS
Andréa Tavares, de Taboão da Serra: mais tempo na cozinha do que com os alunos

Aos diretores brasileiros, faltam praticamente todos os pré-requisitos que os especialistas definem como básicos para o desempenho da função. Além de boa formação e experiência em gestão, já se sabe que o diretor deve conseguir manter sua atenção voltada para as salas de aula e ser capaz de traçar objetivos acadêmicos claros, que servirão de norte para os professores. Também se espera dele que envolva os pais na vida escolar, passo decisivo para o avanço dos alunos. No mundo todo, é esse o tipo de diretor que alcança os melhores resultados no ensino – inclusive no Brasil, segundo mostra uma recente pesquisa feita por especialistas da Fundação Getulio Vargas (FGV), também em parceria com a Fundação Victor Civita. O estudo, que comparou escolas de bom resultado nas avaliações oficiais às de ensino mediano, concluiu que à frente dos melhores colégios estão justamente aqueles diretores com visão de longo prazo. Diz o cientista político Fernando Abrucio, coordenador da pesquisa: “Os diretores mais eficazes entendem que um plano pedagógico ambicioso precisa de tempo para ser concluído”. Estes chegam a ficar até catorze anos numa mesma escola, enquanto um típico diretor de escola pública no Brasil troca de emprego a cada cinco anos.

A experiência internacional chama atenção para um conjunto de práticas que tem contribuído para formar e manter bons diretores à frente das escolas. Elas podem funcionar também no Brasil. Uma medida eficaz é proporcionar aos aspirantes ao cargo uma experiência prévia, como um período em que atuam como assistentes de diretor. Em alguns países, como Singapura, chega-se a exigir dos candidatos até estágio numa grande empresa privada, período em que se espera que absorvam os conceitos básicos de gestão. Ao assumirem o cargo, há meios para livrar os diretores do excesso de atribuições burocráticas, tão maçantes no Brasil. Quem faz boa parte dessas tarefas nos Estados Unidos, por exemplo, é uma espécie de auxiliar administrativo, o que permite ao diretor mirar o ensino. Caso fracasse, ele pode até ser demitido, o que já ocorreu com 80% dos diretores da cidade de Nova York desde 2002. Tornar-se diretor de escola é, em geral, a maior ambição de um professor. No Brasil, significa, em média, um aumento de 50% no salário – que, na nova função, pode chegar a 7 000 reais. Foi uma das motivações para que Andréa Tavares, 39 anos, hoje no comando de uma escola municipal de Taboão da Serra, em São Paulo, trilhasse esse caminho. Há apenas dois anos no cargo, ela diz: “Com uma formação melhor, sei que eu e meus colegas teríamos mais chances de acertar”.

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É lisinho, mas dá um trabalho…

Posted by Marconi em 2009/10/31

As queixas de enfraquecimento e queda de cabelo têm se tornado mais frequentes – e precoces – nos consultórios dos dermatologistas.

De um lado, há a mudança de hábitos feminina: elas fumam mais, sofrem mais de stress e, em alguns casos, submetem-se a dietas amalucadas. Mas, quando nenhum desses motivos explica o problema, os médicos apontam os culpados: os tratamentos químicos agressivos para deixar o cabelo liso. Não há Taís Araújo – que recentemente assumiu seus belos cachos ao natural – que faça a mulher brasileira mudar de ideia: o liso chapinha continua a ser a preferência nacional. Alisamento, relaxamento, escova com secador, chapinha… São muitos os meios para ter o cabelo de Jennifer Aniston (ou pelo menos tentar chegar perto dele), o modelo de preferência das brasileiras, segundo os cabeleireiros. Tudo isso somado à tintura e à descoloração, outras duas paixões nacionais, e lá se vão o volume, o brilho e a maciez do cabelo. Já que o estica e puxa dos fios é inevitável, VEJA ouviu dermatologistas e tricologistas sobre como diminuir os estragos causados por essas técnicas e tratamentos.

Tratamentos químicos
Por que danificam os fios: tinturas, descolorações e alisamentos comprometem a resistência, a maciez e o brilho dos fios. Os processos de coloração são extremamente agressivos: quebram as pontes de cisteína, o aminoácido que dá resistência ao fio. Já a descoloração extrai o pigmento do cabelo e retira sua cutícula de proteção, o que o deixa mais frágil
Como protegê-los: o primeiro passo é escolher bons produtos menos danosos, que não contenham formol nem derivados, como o ácido fórmico. Use finalizadores com queratina diariamente e máscaras capilares uma vez por semana. Prefira produtos que tenham em sua fórmula aminoácidos que regeneram o fio, como cisteína e sericina. Na hora do banho, lave o cabelo com água na temperatura ambiente. A água quente desidrata ainda mais o fio porque abre a cutícula e permite a perda de aminoácidos e proteínas
Já que não dá para evitar… Os dermatologistas recomendam tinturas, no máximo, a cada 30 dias e descolorações, alisamentos e relaxamentos a cada 6 meses
Jupiterimages/Getty Images

Tração de escova, apliques e megahair
Por que danificam os fios: a tração exagerada de penteados e o uso constante de elásticos e presilhas comprometem a resistência do fio de cabelo. “Em casos extremos, eles podem levar ao rompimento do músculo que sustenta o bulbo capilar (estrutura que abriga os fios), causando uma calvície irreversível”, diz o tricologista Luciano Barsanti, diretor médico do Instituto do Cabelo
Como protegê-los: evite prender o cabelo ou usar tranças com frequência. Prefira elásticos macios, feitos de silicone e presilhas de dentes largos. Nunca prenda o cabelo molhado – ele fica mais suscetível à quebra. Também não desembarace o cabelo quando ele estiver muito molhado. Ele fica mais frágil e propenso à quebra. Prefira pentes de osso e madeira e escovas de cerdas naturais
Já que não dá para evitar… Os apliques devem ser usados só por algumas horas e retirados logo em seguida. O megahair é contraindicado em qualquer situação. O máximo recomendado para a escova é 1 vez por semana

Chapinhas e secadores
Por que danificam os fios: o uso de fontes de calor como secador, chapinha e baby liss remove a camada de proteção natural do fio de cabelo, tornando-o suscetível à quebra. A ação do calor faz ainda a água evaporar. Ressecado, o fio torna-se poroso e sem brilho
Como protegê-los: nunca use secador, chapinha ou baby liss sem antes passar um produto termoativado como pomadas e leave-ins à base de silicone. Embora eles não excluam a possibilidade de danos, agem como uma luva térmica, minimizando o calor sobre o fio
Já que não dá para evitar… “A chapinha é a grande vilã dos fios. Com temperaturas que atingem 220 graus, ela frita o cabelo”, diz a cosmetóloga Sonia Corazza. Não deve ser utilizada mais do que 1 vez por semana, assim como o calor do secador

Os outros agressores

A mulher brasileira é a segunda maior consumidora de produtos para cabelo do mundo – só perde para a americana. O motivo: o clima tropical e a exposição intensa ao sol e à poluição fragilizam os fios e exigem cuidados intensos. Saiba por quê:

Poluição
Por que danifica os fios: deposita impurezas, pigmentos e metais pesados, como o chumbo, na superfície do couro cabeludo e do cabelo, que vai perdendo o brilho e a maleabilidade
Como protegê-los: é importante usar um xampu antirresíduos uma vez a cada quinze dias

Sol
Por que danifica os fios: a exposição aos raios UV deixa o cabelo áspero, ressecado, sem brilho e com pontas duplas. “No Brasil, aos 20 anos de idade, já tomamos 75% da cota de sol destinada à vida toda”, diz Sonia Corazza
Como protegê-los: no dia a dia, especialistas recomendam os leave-ins à base de silicone com protetor solar. Na praia, protetores solares específicos para o fio e para o couro cabeludo são indispensáveis – assim como bonés e chapéus
Amanaimages/Latinstock

Praia e piscina
Por que danificam os fios: o cloro da piscina e a alta alcalinidade da água do mar atacam a queratina do cabelo, alterando sua cor e deixando-o frágil, poroso e com tendência à queda
Como protegê-los: com produtos que tragam na fórmula filtro solar, silicone e lipídios como óleos vegetais. Especialistas também recomendam hidratação semanal com fórmulas que contenham pantenol e biotina

Glossário dos fios

• Biotina e Pantenol: vitaminas derivadas do complexo B
• Bulbo capilar: raiz do cabelo, por onde o fio se alimenta
• Cisteína: aminoácido que compõe e dá estrutura aos fios
• Cutícula: camada mais externa do fio de cabelo
• Matriz capilar: porção interna do fio, por onde percorrem os nutrientes
• Queratina: proteína que predomina na composição do fio de cabelo

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